22 de setembro de 2011

Justiça da França pune primeiras muçulmanas por uso de véu


Hind Ahmas com a multa recebida pela corte francesa nesta quinta (AP)
Hind Ahmas defende uso do niqab e quer levar caso à Corte Europeia de Direitos Humanos
A Justiça da França aplicou pela primeira vez nesta quinta-feira a lei que proíbe o uso de véus em locais públicos, multando duas muçulmanas que desafiaram a polêmica proibição.
Hind Ahmas e Najate Naït Ali usaram o niqab – que cobre o rosto, deixando apenas o olho à mostra – e foram multadas em 120 euros e 80 euros (R$ 200), respectivamente. Mas prometeram recorrer da sentença e acionar a Corte Europeia de Direitos Humanos.



A decisão pode ter implicação em outros países europeus que já impuseram ou discutem a imposição de vetos semelhantes, apesar de críticas de que a lei fere liberdades constitucionais.
A lei que veta o uso de véus em espaços públicos foi implementada em abril, e, desde então, a polícia francesa emitiu diversas multas para islâmicas que estivessem com a face coberta. Mas os casos desta quinta foram os primeiros punidos judicialmente.
Em contrapartida, grupos muçulmanos alegam que, por conta da lei, mulheres com véus têm sido agredidas no país.
Briga legal
As duas mulheres punidas nesta quinta haviam sido presas em maio, quando levaram um bolo de aniversário para Jean-François Cope, líder do partido direitista UMP, o mesmo do presidente Nicolas Sarkozy e que patrocinou a criação da lei antivéu.
Hind Ahmas disse, antes da audiência, que esperava receber a punição, para poder levar o caso à Corte Europeia de Direitos Humanos.
Segundo correspondentes da BBC, o caso ainda teria que passar por muitas instâncias até chegar à corte europeia. Mas uma decisão nessa instância teria amplo efeito na Europa.
“Fomos sentenciadas sob uma lei que viola a lei europeia. Não é o tamanho da multa, é o princípio. Não podemos deixar que as mulheres sejam condenadas por seguir livremente suas convicções religiosas”, disse Ahmas, segundo a agência France Presse.
À BBC, Ahmas, uma mulher divorciada de 32 anos, disse que sua família não segue o islã de maneira rígida e que ela decidiu usar o niqab há apenas seis anos, como uma mulher adulta solteira e educada que redescobriu sua fé.
Política
A França foi o primeiro país europeu a banir o uso público dos véus. Segundo a nova lei, qualquer mulher - francesa ou estrangeira - que andar nas vias públicas ou parques usando vestimentas islâmicas como niqab ou burqa (que cobre tudo, deixando uma tela sobre os olhos) pode ser parada pela polícia e multada.
Kenza Drider
Kenza Drider, usuária do niqab, anunciou candidatura à Presidência francesa
O governo francês alega que os véus vão contra os princípios que guiam a vida em sociedade, além de relegar as mulheres a um status inferior, incompatível com as noções francesas de igualdade.
A sentença desta quinta foi acompanhada com atenção por países como Bélgica, Itália, Dinamarca, Áustria, Holanda e Suíça, países que já têm – ou planejam – legislações semelhantes à francesa.
Em novo capítulo da polêmica, uma conhecida ativista muçulmana francesa e defensora do niqab, Kenza Drider, anunciou nesta quinta sua candidatura à Presidência da França nas eleições de 2012.
Drider se tornou representante de francesas muçulmanas que insistem em usar o véu, alegando que se trata de uma escolha pessoal e um direito tolhido pela lei em vigor.
“A realidade é que há muito desemprego e muitos problemas na França. Então não vamos dar atenção ao que eu uso, vamos lidar com esses problemas”, declarou Drider ao anunciar a candidatura.
Autoridades francesas citadas pela AFP estimam que apenas 2 mil mulheres, de uma população de muçulmanas calculada entre 4 e 6 milhões, usam véus que cobrem o rosto inteiro. Por isso, críticos acusam Sarkozy de patrocinar a lei para conquistar votos do eleitorado conservador .

Retirado de:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/


8 de setembro de 2011

Por que devemos relembrar o 11/9?



911
Dez anos depois, muitos americanos ainda se lembram nitidamente dosterríveis eventos de 11 de setembro de 2001. Aviões se espatifando contra o World Trade Center; pessoas pulando de janelas a centenas de metros de altura; milhares de civis fugindo do centro de Manhattan a pé. São imagens difíceis de esquecer.
Por outro lado, a maioria das pessoas que ficaram grudadas no noticiário durante vários dias em 2001, hoje raramente pensam naquele dia fatídico. E as pessoas que moram longe do local ou eram novas demais na época talvez não entendam muitos dos detalhes dos ataques.
É um fenômeno clássico que se repete ao longo de anos de guerras e traumas, garantem os historiadores. Em meio a eventos trágicos, as pessoas têm certeza de que o mundo jamais será o mesmo. Mas à medida que os anos e as gerações passam, a vida cotidiana volta ao normal para a maioria das pessoas. As influências políticas e culturais gradualmente transformam nossas memórias da história ao longo de décadas.
Enquanto os conflitos no Iraque e Afeganistão continuarem, ainda é cedo para saber se o 11/9 será relembrado ou mesmo se as gerações futuras irão homenagear a data.
"Podemos deixar as desavenças políticas de lado quando lemos os nomes do 11/9, e voltar 364 dias no ano para questionar se devíamos ter feito isto ou aquilo”, afirma Gavriel Rosenfeld, historiador da Universidade de Fairfield em Connecticut. "Tudo se resume ao fato de que a história definitiva do 11/9 não foi escrita, já que ainda a estamos vivendo”.
Contudo, a História sugere – para o bem ou para o mal – que uma narrativa cultural de esperança e otimismo deve, por fim, prevalecer, afirma Alvin Rosenfeld, autor de "The End of the Holocaust" (O Fim doHolocausto, em tradução livre) e professor de Estudos Ingleses e Judaicos da Universidade de Indiana, que também é pai de Gavriel Rosenfeld.
Para exemplificar, Alvin menciona Anne Frank. Embora tenha sofrido terrivelmente durante o Holocausto, todos os filmes e peças americanos feitos sobre ela eram calcados em uma das raras linhas animadoras de seu diário: "Apesar de tudo, ainda acredito que as pessoas tenham um bom coração".
"Se isso é comparável à forma como a memória do Holocausto evolui coletivamente, nós nos lembraremos (do 11/9), mas o tempo tende a dissipar a amargura”, reflete Alvin Rosenfeld. "Os americanos tendem a desejar que as coisas acabem bem, não mal. Gostamos de finais felizes, valorizamos demais a esperança. Não queremos nos deter no passado, especialmente se ele for terrível como o Holocausto e o 11/9/".
Não há um consenso de que a tendência dos americanos de transformar escombros em esperanças seja uma coisa boa. Alguns especialistas a consideram uma atitude ingênua; outros, uma forma de superação.
Mas o otimismo do nosso país aponta claramente para a diferença entre história e memória. E os eventos do 11 de setembro de 2001 podem ter introduzido um espinho naquela disposição eternamente edificante, reflete Gavriel Rosenfeld.
Ele menciona reavaliações recentes da Segunda Guerra, que sempre foi lembrada como uma “guerra boa”.  Atualmente, muitos especialistas estão começando a questionar a verdade subjacente ao termo, argumentando que teria sido muito melhor se não tivéssemos sequer entrado na guerra.
"Creio que o 11/9 foi um divisor de águas no tocante à forma como reavaliamos certos aspectos da história”, afirma Gavriel Rosenfeld. "Desde o 11/9, há um novo ceticismo em relação ao envolvimento da América nas questões globais e ao uso do poder político para atingir seus objetivos”.
Estudos sobre o Holocausto oferecem outras percepções e ajudam a avaliar se o 11/9 será lembrado ou esquecido dentro de 80 anos. Ambos os eventos são considerados atos chocantes e impensáveis, que ocasionaram a perda de muitas vidas inocentes. Mas se comparado às quase 3.000 pessoas que morreram nos ataques do 11 de setembro há dez  anos, o Holocausto ocorreu em escala bem maior, matando quase seis milhões de judeus ao longo de mais de uma década.
Ainda assim, muitas pessoas desconhecem ou se esquecem de muitos detalhes daqueles anos terríveis, afirma Lawrence Langer, autor de "Holocaust Testimonies: The Ruins of Memory" (Depoimentos do Holocausto: As Ruínas da Memória, em tradução livre)
Em uma das maiores atrocidades do Holocausto em 1941, por exemplo, mais de 33 mil judeus foram mortos a tiros e sepultados em valas comuns, durante dois dias e duas noites em Babi Yar, na Ucrânia. Entretanto, poucas pessoas conhecem esse incidente. Dependendo da forma como os atentados de 11/9 se encaixarem em um contexto histórico e político mais amplo, aquele dia terrível também pode desaparecer da nossa memória coletiva.
É fundamental que lutemos para recordar as atrocidades do passado, afirma Langer, e não porque isso evitará futuras tragédias, mas porque os atos de ouvir, aprender e recordar são passos importantes no desenvolvimento da empatia por outros indivíduos e culturas.
Preservar as memórias de eventos traumáticos também ajuda a validar a experiência das pessoas que sofreram diretamente.
"Conhecer um evento histórico faz parte do processo de se tornar uma pessoa civilizada e educada”, afirma Langer, que entrevistou mais de 80sobreviventes do Holocausto e assistiu a entrevistas com mais de cem.
"As pessoas que entrevistei contam suas histórias porque querem que o mundo saiba o que aconteceu a elas", pontua.  "O fato de alguém saber e se importar com isso valida sua experiência. Não lhe confere significado, mas se ninguém se importa, você é relegado ao esquecimento. Se não recordamos o que aconteceu no 11/9, é como se não tivesse acontecido”.


Fonte : http://www.discoverybrasil.com/